A Maria vai ao quadro
- Maria Inês Félix

- 1 de ago. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: há 1 dia
Já passou muito tempo desde que a Maria e eu terminámos os estudos.
Hoje conto-vos um dos momentos mais marcantes da Maria enquanto andávamos no secundário.
Lembro-me de uma aula de matemática, em que estávamos a aprender a resolver problemas através de equações. A Maria ficava aterrorizada com estas aulas, pois já sabia que existia uma grande probabilidade de ser chamada ao quadro (é curioso pensar como um simples quadro, uma superfície rectangular e lisa, pode criar tanto medo a uma criança). De facto, o medo de ser chamada era tão grande que a Maria era capaz de se enfiar num canto da sala até que a aula terminasse (ela nunca gosta de ser o centro das atenções).
A professora escrevia os problemas no quadro e chamava os alunos à vez para resolverem o respectivo exercício. À medida que a minha vez se aproximava, eu só conseguia sentir os nervos da Maria aumentarem cada vez mais. Lá chegou a minha vez e, quando a professora disse o meu nome, os nervos da Maria atingiram o ponto máximo! Eu sabia que tinha de ajudá-la e por isso, pedi-lhe para respirar bem fundo.
Com a Maria ao meu lado levantei-me da cadeira e fui ao quadro para resolver o problema.
Sabia que a Maria necessitava de tempo para resolvê-lo porém, tudo o que não havia era tempo. Por um lado, a professora chamava por mim para ser mais rápida, mas o meu corpo não se mexia. Por outro, eu chamava pela Maria, para resolvermos o exercício juntas, mas ela não me respondia de tão nervosa e envergonhada que estava. Os minutos foram passando e eu sentia-me cada vez mais vermelha. A voz da professora começou a soar cada vez mais distante… Sem forças e a sentir-me zonza, tentei dizer-lhe que não me sentia bem, poucos segundos depois, não me lembro de mais nada...
Passaram alguns minutos e eu acordei no chão da sala, com os meus colegas admirados a olhar para mim. Na verdade, não entendia nada do que se estava a passar... Mais tarde, a professora contou-me que eu tinha desmaiado em plena aula. Naquele momento, nem queria acreditar no que estava a ouvir! Dentro de mim só pensava na Maria, porque bastariam umas horas até que “toda” a escola soubesse o que tinha acontecido. A Maria chorava de tristeza e vergonha.
Nesse dia, a minha mãe soube do que aconteceu e percebeu que eu precisava de ajuda para ultrapassar a dislexia e ganhar autoestima. Passei a ter sessões de psicoterapia e, ao mesmo tempo, explicações com diferentes professores de várias disciplinas, para vencer o medo de “me expor” na turma. Foi um trabalho muito árduo para nós as duas, pois havia semanas em que tínhamos explicações quase todos os dias. No entanto, lá no fundo, eu sabia que todo aquele esforço iria ajudar-me a ganhar mais confiança para as próximas vezes que me chamassem para o quadro.
Ao longo da vida, é necessário cair várias vezes até chegar ao topo, tal como uma pessoa que quer tornar-se num bom cavaleiro deve cair, pelo menos, sete vezes do cavalo (pelo menos era o que o meu instrutor dizia nas minhas aulas de equitação). Hoje, olho para trás e penso: talvez esta tenha sido a "queda" que marcou o início de muitas.





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